Hora de comprar casa para morar, aconselham economistas


03/11/2014 - Fonte: O Globo

Procuram-se compradores de imóveis. No Rio, em São Paulo, Brasília, Recife, Porto Alegre... Em diferentes cidades brasileiras, campanhas publicitárias vêm mostrando construtoras e imobiliárias adotando estratégias para liquidar imóveis não vendidos. Segundo especialistas, o fato é um pouco consequência da empolgação do setor com o bom momento dos últimos anos — o ritmo de lançamentos foi acelerado e a demanda não acompanhou — e um pouco de mercado parado por causa das incertezas com o rumo do país. A boa notícia, para o comprador, é que, com imóveis vazios, os preços, que subiam em ritmo muito acima da inflação, começam a se estabilizar. 

Vale comprar agora, dizem economistas, mas se for para morar. Para investir, melhor esperar. Segundo o Índice FipeZap, em média, o valor do metro quadrado no país apresenta pequeno aumento real neste ano, de 5,4%. Mas em cinco cidades ele subiu menos do que a inflação e em uma, Brasília, houve recuo de 0,99%. As cidades com alta abaixo da inflação foram Recife (3,93%), Porto Alegre (3,41%), Curitiba (0,97%), Contagem (3,29%) e Santos (2,49%). SÃO PAULO REGISTRA FORTE QUEDA DE UM ANO A OUTRO A situação mais crítica é a de São Paulo, onde as vendas acumuladas de imóveis novos de janeiro a agosto caíram 48,8%, totalizando 11.587 unidades, contra 22.638 unidades comercializadas no mesmo período de 2013. 

Em número de lançamentos, a queda foi de 23%, o que sinaliza, para especialistas, um freio de arrumação. Diante disso, algumas das maiores empresas do setor investem em saldões de imóveis. Em agosto, a Lopes Imobiliária deu descontos de até 34% em unidades de 72 empreendimentos em São Paulo. Já a construtora PDG Realty realizou uma promoção envolvendo imóveis em 13 estados — o resultado foi considerado positivo pela empresa: foram vendidos mais de 1.500 imóveis dos cinco mil ofertados. A Lopes não divulgou o balanço da ação. — Nosso produto tem valor alto, não existe compra de imóvel por impulso. Num momento de incerteza política e econômica, o comprador fica na retaguarda. 

E qual o melhor estímulo à compra que se pode dar, em qualquer setor? Promoção —afirma o diretor da PDG Rio, Claudio Hermolin, ressaltando que, no Rio e em Niterói, 80 unidades foram vendidas nesta promoção, com valor geral de vendas de R$ 40 milhões. Em Brasília, terceiro lugar na lista do metro quadrado mais caro do país, atrás de Rio e São Paulo, o volume de imóveis residenciais e comerciais vazios, em setembro, era de 36.608 unidades — no mesmo mês de 2013, de 32.970. Uma alta de 11%. Três anos antes, setembro de 2011, esse estoque registrara 21.768 imóveis. Ou seja, nos últimos três anos, o número de unidades sem compradores cresceu 68%. Além de não construir num ritmo em que o mercado pudesse absorver, as construtoras pecaram, também, em alguns casos, no planejamento e no conhecimento do público, diz Germano Leardi Neto, diretor de Relações Institucionais da imobiliária Paulo Roberto Leardi: — A capital federal, por exemplo, convive com falta de imóveis de dois, três e quatro quartos, mas ainda assim o mercado continuou apostando agressivamente em unidades compactas. Hoje, apartamentos de um quarto representam 45% dos imóveis sem compradores em Brasília. Em Recife, de janeiro a setembro do ano passado, foram vendidos 5.341 apartamentos. 

Este ano, no mesmo período, as vendas somaram 4.427 imóveis (redução de 17%). Em Porto Alegre, o mercado imobiliário acumula queda de 20,83% nas vendas de imóveis novos, considerando-se os últimos 12 meses até agosto, na comparação com os 12 meses anteriores. Para evitar a alta de estoques, as construtoras diminuem o ritmo de produção: o número de lançamentos nos últimos 12 meses caiu quase 22%. HAVERIA UMA BOLINHA IMOBILIÁRIA NO PAÍS? Estaríamos diante de uma (pequena) bolha imobiliária? Pelo menos para o economista Gilberto Braga, não. Segundo ele, o mercado passa por uma fase de ajuste de preços, principalmente no segmento de novos, mas frisa que o conceito de bolha, comparada com o que ocorreu nos EUA, não se aplica aqui: — Lá, os preços caíram rapidamente, de 50% a 80%, o que caracterizou o “estouro” da bolha. 

No nosso caso, não há bolha, mas ajuste forçado dos preços à realidade de crescimento baixo da economia e de inflação próxima do teto da meta. Tanto é que, na média Brasil, os preços continuam crescendo, um pouco abaixo da inflação, mas em termos absolutos, não vêm caindo. Braga diz que os “feirões” promovidos por incorporadoras são vistos de forma natural e esclarece que eles são formados por dois tipos de unidades: as encalhadas e as retomadas. — As encalhadas são aquelas em andares muito baixos ou altos e colunas ruins. E há as retomadas por falta de capacidade de pagamento: muitos apostaram que a valorização continuaria e poderiam fazer negócio fácil com suas unidades, o que não se confirmou. Para o economista, esta pode ser uma boa hora para se comprar um imóvel, mas basicamente se for para morar: — Para investimento, não vale. 

Embora os preços dos imóveis não estejam caindo, eles sobem menos que a inflação no momento. É mais vantajoso investir na tradicional renda fixa. 

ESTÁVEL, RIO TAMBÉM LANÇA MÃO DE OFERTAS O Rio apresentou o melhor resultado entre os estados pesquisados pelo Morar Bem. De janeiro a agosto deste ano, o número de lançamentos de imóveis residenciais na cidade foi de 10.087 unidades, um resultado 1,1% acima do mesmo período do ano passado. O dado, divulgado pela Associação dos Dirigentes das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), é considerado como estabilidade. Mas as empresas fluminenses também estão lançando mão de campanhas agressivas de descontos e incentivos à força de vendas para se livrar de estoques neste fim de ano. — Oferecer promoções em eletrodomésticos ou instalação de carpete ou pisos de madeira, entre outros; promover o pagamento da escritura ou deixar seis meses de condomínio acertado são algumas formas de motivar o cliente, que deve tirar proveito disso e buscar as melhores ofertas — diz Germano Leardi Neto, da imobiliária Paulo Roberto Leardi. 

A incorporadora MDL, por exemplo, está montando um apartamento decorado no Bourgogne Residence Gourmet, na Freguesia, lançado há mais de dois anos: a estratégia é conquistar o cliente que passa por ali diariamente, mostrando como ficarão os imóveis. O empreendimento terá serviços como car wash, baby sitter, all delivery e dog walk. Além disso, para quem fechar a compra nessa reta final de 2014, a MDL oferece até 20% de desconto em outros empreendimentos, tanto prontos quanto em construção. Já a imobiliária Patrimóvel se une a 12 grandes construtoras e incorporadoras (Brookfield, Calçada, Calper, Dominos, Even, Fmac, Gafisa, João Fortes, PDG, Performance, Queiroz Galvão, Rossi) para organizar, nos dias 15 e 16, um feirão, o Hiper Imóveis, no local onde funcionava o hipermercado Walmart, na Barra da Tijuca.

Cada empresa oferecerá cinco empreendimentos, que serão apresentados ao público em gôndolas, divididas por regiões (Barra 1 e 2, Zona Norte, Zona Sul e Zona Portuária). Serão 60 empreendimentos, somando mais de cinco mil opções de imóveis. — É como num hipermercado. Os visitantes escolhem a gôndola de acordo com o seu interesse e pesquisam todas as ofertas da região, fazendo suas escolhas sem interferências — explica Rubem Vasconcelos, presidente da Patrimóvel.